'' e a vida era mesmo assim: cair sete vezes & levantar oito. ''

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Volta

 Escrevo-te porque não sei. Ou porque sei que não vais ler. Ou porque qualquer fragmento deste papel possa aparecer no teu rumo de vida. Não sei porque escrevo, não preciso de saber. Sinto-me doente ou então com uma bruta ansiedade sobre os meus ombros. O coração faz curtas diástoles, com pouco tempo de repouso. Está frio, não está?
 As luzes da minha rua ofuscam-me a visão de uma imperfeita noite e eu mantenho-me ansioso e com a necessidade de expelir uma Revolução Industrial que dentro de mim se despoleta.
 As lembranças são feitas através de flashbacks repetidos, demorados e contínuos no tempo, como uma função afim.
 Sinto-me num infinito de abcissas soltas nos números reais. Qual é o fim? O infinito? E eu o que sou? O infinito?
 Prendo-me novamente em questões matemáticas, a maior parte delas sem o mínimo raciocínio lógico. Nem o amor é lógico. Nem eu sou lógico. A mente, outrora dominada pelo meu hemisfério esquerdo, vê-se agora numa fase impulsiva e extravagante da sua existência. Não penso. Custa pensar. Ou se pensar volto a perceber na realidade ilusória na qual me encontro, a mesma realidade onde tu és um elemento presente.
 Lembro-me de ti como se ainda hoje de manhã me tivesses acordado com um beijo agreste. Lembro-me de ti como se ainda fosses parte da tatuagem que outrora fiz. Passo a mão por ela e lembro-me do contacto estonteante entre os nossos corpos, um contacto que se calhar nunca existiu. Ainda me debato sobre a diferença entre a realidade que vivo e a realidade que sonho. Volto-me a lembrar da tua silhueta, a tua leve silhueta. Lembro-me do que sempre quis. Amar-te.
E ser o teu corpo e o meu um só. Sentir-te. Sentir o calor do teu corpo nas minhas cruas mãos, mortas agora pela extrema actividade cerebral. Contornar cada detalhe harmonioso e saborear o teu frenético êxtase revolucionário.
E mostrar-te o que sou e partilhar o meu universo estrelado contigo. Cumprir a lei da reciprocidade e vivermos alados da lei gravitacional. Deixar-nos reger por leis físicas, universais e dogmáticas. Sermos um e conseguirmos desvanecer qualquer erro paradigmático.
E amar-te novamente e saber que me pertencias naquele momento. O momento do espaço, a nova abcissa irreal onde tu existias. Desejo regredir para lá, mas mantenho-me preso pela inércia. Lembro-me das Leis de Newton e até elas me lembram de ti.
 A função cuja variável é o tempo avança, exponencialmente ou racionalmente, não sei, mas avança. E tu não estás. Desliguei os meus sentimentos como um interruptor (pudera ser possível). Tornei-me frio e daí a não sentir a gélida temperatura que faz lá fora. Não conseguia sentir, mas se sentisse, sentia que já te tinha perdido, que eras areia e passavas nas fendas das minhas mãos. Sentir-me-ia perdido, sem salvação como se tudo se prendesse àquele momento: o teu corpo salgado de cloreto sódico e a minha vontade de te fazer minha.
 E o sal invade a minha boca. Os meus músculos deixam de ser rígidos, talvez pela excessiva entrada de sódio ou por me confrontar com a verdadeira realidade. Surgiam novos compostos inorgânicos no meu sistema cardíaco. A ansiedade e o êxtase percorriam a minha corrente sanguínea e a vontade de te voltar a ter emancipava-se por todas as minhas inúmeras células eucariontes.
 Debruço-me novamente no espaço em ordem ao tempo. A função que nunca conhecera. Desejo o teu voltar. Regressa! Era tarde.
 Perdi-te ou ainda estás aí? Não sei, já faz tarde e o muro da minha casa desvanece com a água da chuva. Porque não vens? A hora passava metodicamente e a saudade aumentava exponencialmente. A tua falta fazia sentir-se no meu sólido olhar. Chove lá fora.
 Onde estás? Porque demoras? O sabor do teu sal desaparece dos meus lábios. Sabe a ferro, sabe a nada.
Por isso, volta. Volta! Necessito do teu calor. Ou calor que não senti. Mas volta e faz-me renascer das cinzas, deixando ferver esta ânsia. Volta e contraria toda a lei metafísica em que acreditas.
 Já te pedi para voltares. Pela noite. Arrasta os teus pés descalços no mármore frio da noite. Volta porque preciso. Volta e apaga a luz.
 Volta, porque ainda é tempo de descobrir o x da minha equação.

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