'' e a vida era mesmo assim: cair sete vezes & levantar oito. ''

domingo, 15 de maio de 2011

; marcas na pele.


 Transportava no seu corpo aquelas marcas, a sua voz tremia só de falar nelas. Apertava as mãos, uma na outra, e voltava a tremer. Hiperbolizava as palavras caladas naquele momento, deitava-se pela areia e escondia lá as suas lágrimas. Enxugava os olhos, não olhava para trás, mas prosseguia em direcção ao mar. Molhava os seus pés na salgada água que levava aos poucos a areia fazendo-a correr entre os seus dedos. Depois agachava-se e desenhava círculos imperfeitos no chão. Ocorriam até momentos em que vira-los com as marcas que lhe tinham feito no seu pequeno coração. Imaginava assim que todas as marcas que haviam deixado seriam como a areia e que quando viesse o mar, elas desapareciam. Mas não poderia ser assim tão simples, era algo mais engenhoso, mais complexo. As marcas doíam-lhe como feridas na pele, feridas mal fechadas que tinham voltado a ser abertas e agora seria deveras difícil voltar a fechar. Olhou de novo, em frente. Não iria dizer que seriam marcas como as do rochedo se afinal até era capaz de viver com aquilo embora doesse.
 Lentamente, continuava a sua caminhada de modo melancólico e até triste. Depois acabava sempre por cair uma, duas ou até mesmo três lágrimas até que elas se juntassem ao resto das gotas do mar. De seguida, vinha o barulho do mar, aquele murmúrio das gotas a baterem umas contras as outras. Certamente seriam as lágrimas que lhe tinham caído a contarem a história da triste que era a sua vida, pensou.
 Sentou-se por completo na areia húmida que cheirava a uma espécie de bálsamo, encostou a sua cabeça. O sol começou a deitar-se, até para ele era desgastante aquela vida! Depois pensou nos versos que tinham ficado suspensos no ar, nos textos que tinha feito e que agora eram meros agrupamentos de palavras, deitados ao mar.
 Uma vida, sem sentido, desmoronada. Continuava a pensar que tudo era como o mar que ia e vinha, mas isso era apenas e somente um eufemismo da sua mente.
 As marcas continuavam lá, invisíveis na sua pele, sensíveis no coração. Era uma ferida aberta agora, um buraco no peito sem circulação sanguínea. A vida continua, sim, continua, mas seria sempre uma marca, talvez só mais uma no seu peito. E as marcas eram como as da rocha, permanentes.



Nenhum comentário:

Postar um comentário